Saltar para o conteúdo

Atos de Tomé

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Os Atos de Tomé, do início do século III é possivelmente o texto mais gnóstico entre os apócrifos do Novo Testamento, retratando Cristo como o "Redentor Celestial", independente e além da criação, com o poder de libertar as almas da escuridão do mundo. Referências a esta obra por Epifânio mostram que ela tinha ampla circulação no início do século IV.

Este texto não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé, uma obra de "ditos" anterior.

Os manuscritos

[editar | editar código-fonte]
São Tomé Apóstolo

Chegaram até nossos dias versões completas em siríaco e grego. Existem ainda muitos fragmentos preservados do texto. Os estudiosos notaram da versão grega que o original foi provavelmente escrito em siríaco, o que colocaria a Síria como local onde os Atos de Tomé foram escritos. Os manuscritos sobreviventes em siríaco, porém, foram editados para eliminar as passagens não-ortodoxas mais fortemente gnósticas, o que torna a versão grega a mais confiável na reprodução das antigas tradições.

Fragmentos de quatro outros ciclos de romances sobre a figura do Tomé apóstolo sobreviveram, mas este é o único completo[1].

"Atos de Tomé" é uma série de atos episódicos que ocorreram durante a missão evangelizadora de São Tomé na Índia. No livro, a viagem é descrita em detalhes. Após uma longa estadia na corte em Taxila, Tomé ordenou líderes para a Igreja e partiu numa biga para o reino de Mazdes, na Índia ocidental, e que era governado pelo Rei Misdeu (Vasudeva I). O rei se enfureceu com Tomé por ele ter convertido a rainha "Tércia", seu filho "Iuzanes" e a filha de seu parente ("Carísio"), a princesa "Migdônia" e sua ama "Marcia". Por isso, o rei o leva até o alto de um morro e ordena que seus quatro soldados o matem com suas lanças[2].

"Sífor" foi eleito como o primeiro presbítero pela comunidade após a morte de Tomé, enquanto Iuzanes se tornou diácono[2].

Estrutura da obra

[editar | editar código-fonte]

O texto está subdividido em diversos capítulos[2]. :

  1. Quando ele foi à Índia com Abanes, o mercador.
  2. Sobre a sua estadia sob o rei Gundáforo
  3. Sobre o serviçal
  4. Sobre o potro
  5. Sobre o demônio que tomou o corpo de uma mulher
  6. Sobre o jovem que assassinou uma mulher. Um jovem casal começa a ter problemas conjugais quando a mulher prova ser muito disposta ao sexo enquanto que o marido advoga a castidade, honrando os ensinamentos de Tomé. Então, o marido mata a mulher e vai à eucaristia com os demais na presença do apóstolo, mas sua mão treme e Tomé percebe que ele cometeu um crime. Após ter sido confrontado, ele revela seu crime e suas razões. Tomé o perdoa, pois seus motivos foram puros e vai encontrar o corpo da mulher. Numa pousada, Tomé e os que estavam com ele colocam as mãos sobre o corpo colocado num sofá e, depois de rezarem, Tomé faz o marido segurar a mão da esposa, que então volta à vida. A história tem temas claramente gnósticos da morte e ressurreição, a morte não sendo algo ruim, mas o resultado da busca pelo conhecimento gnóstico e a ressurreição para uma vida melhor após esse conhecimento.
  7. Sobre o Capitão (Sífor)
  8. Sobre os jumentos selvagens
  9. Sobre a esposa de Carísio (Migdônia)
  10. Onde Migdônia é batizada
  11. Sobre a esposa de Misdeu (Tércia)
  12. Sobre Iuzanes, o filho de Misdeu
  13. Onde Iuzanes foi batizado com os demais
  14. O martírio de Tomé

Embora Gregório de Tours tenha feito uma versão, a corrente principal da tradição cristã rejeita os Atos de Tomé como pseudepígrafo e apócrifo. A Igreja Católica Romana finalmente confirmou os "Atos" como herético no Concílio de Trento. Veja Leucius Charinus).

Ver artigo principal: São Tomé
Suposta tumba de São Tomé, em Chennai, Índia

Tomé é frequentemente chamado pelo seu nome Judas (seu nome completo é Tomé Judas Dídimo), dado que tanto "Tomé" quanto "Dídimo" significam apenas "gêmeo". Diversos estudiosos acreditam que "gêmeo" é a apenas uma descrição e não um nome. Os manuscritos terminam com:

Os atos de Judas Tomé, o apóstolo, está completo, o que ele fez na Índia, cumpindo o que lhe ordenou aquele que o enviou. A que toda a glória, mundo sem fim. Amem
 
Atos de Tomé[2].

Segundo Bardesanes, Tomé foi martirizado na Índia ocidental, no Vale do Indo, atualmente no Paquistão[3]. Durante o reinado de Vasudeva I, os ossos de São Tomé teriam sido transferidos para Edessa[4]. Porém, a tradição reputa o local da morte do apóstolo como tendo ocorrido na antiga cidade de Madras (atual Chennai), na Índia, onde existe ainda hoje um túmulo dele.

Hino da Pérola

[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Hino da Pérola

Inserido nos Atos em diferentes lugares conforme os diferentes manuscritos está um hino siríaco, o Hino da Pérola (ou Hino da Alma), um poema que ganhou enorme popularidade nos círculos cristãos, inclusive os da corrente principal. O Hino é mais antigo que a obra em que foi inserido e vale a pena ser apreciado isoladamente. O texto é interrompido com a poesia de outro hino, o que começa com "Venhais, vosso nome de Cristo que está acima de todos os nomes" (2.27)[5], um tema que foi adotado pelo catolicismo romano no século XIII como "Santo Nome".

Referências

  1. «Acts of Thomas». Anchor Bible Dictionary (em inglês). Assim como outros atos apócrifos contendo lendas populares e propaganda religiosa, a obra tenta entreter e instruir. Além de narrativas sobre as aventures de Tomé, seus elementos poéticos e literários são importantes evidências das tradições iniciais do Cristianismo Siríaco 
  2. a b c d Robinson, ed., James M. (1924). The Apocryphal New Testament. The Acts of Thomas (em inglês). [S.l.]: Clarendon Press 
  3. Acts of St.Thomas,translation by M.R. James 1924 Gnostic Society Library
  4. Medlycott, A. E (1905). India and the Apostle Thomas: an inquiry, with a critical analysis (em inglês). [S.l.: s.n.] p. 133,153 
  5. Mead, G.R.S. The Hymn of the Robe of Glory. The Hymn of the Pearl - The Acts of Thomas (em inglês). [S.l.: s.n.] 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
  • «Acts of Thomas» (em inglês). Early Christian Writings. Consultado em 28 de agosto de 2010