Ruy Mingas

cantor e político angolano (1939-2024)

Ruy Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas (Luanda, 12 de maio de 1939Lisboa, 4 de janeiro de 2024) foi um cantor, compositor, diplomata, empresário e político angolano. Foi deputado no parlamento angolano, secretário com status de Ministro dos Desportos e embaixador de Angola em Portugal. Compôs a música do Hino Nacional de Angola.[1]

Ruy Mingas
Nome completo Ruy Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas
Nascimento 12 de maio de 1939
Luanda, Angola
Morte 4 de janeiro de 2024 (84 anos)
Lisboa, Portugal
Nacionalidade angolano
Progenitores Mãe: Antónia Diniz de Aniceto Vieira Dias
Pai: André Rodrigues Mingas
Cônjuge Julieta Cristina da Silva Branco Lima
Filho(a)(s) Katila Mingas
Ângela Mingas
Nayma Mingas
Carlos Mingas
Ocupação Cantor, compositor, diplomata e político
Prémios Prémios Autores de 2014

Da sua obra discográfica destacam-se "Cantiga por Luciana", "Poema da farra", "Maquesu",[2] "Muadiaquimi", "Birin birin", "Monagambé", "Adeus à hora da partida"[1] e a muito aclamada "Meninos do Huambo".[2][3]

Biografia

editar

Nascido na zona de Ingombota,[4] em Luanda, foi filho de André "Mongone" Rodrigues Mingas e de Antónia Diniz de Aniceto Vieira Dias.[5] Alguns dos irmãos de Ruy Mingas foram também figuras notáveis da história angolana, nomeadamente o político, cantor e compositor André Mingas Júnior,[5] a linguista e investigadora Amélia Mingas,[5] a atleta e administradora Júlia Rodrigues Mingas, o comandante policial José "Zé" Rodrigues Mingas e o economista, escritor e político Saíde Mingas.[5]

Ruy Mingas pertenceu a uma família de influentes músicos angolanos. Do seu tio Liceu Vieira Dias[5] recebeu o ritmo e uma nova maneira de interpretar a música angolana. Durante o seu percurso musical, Ruy Mingas desenvolveu a sua sonoridade própria no âmbito de concretizar o que o seu tio Liceu Vieira Dias sempre o pediu para fazer ("cultivar o [seu] ouvido musical"), influenciando assim outro músico angolano, o seu irmão André Mingas Júnior.[6][7]

Ruy Mingas foi praticante de atletismo nas décadas de 1950 e 1960, tendo competido no salto em altura e 110 m barreiras, no Sport Lisboa e Benfica, sendo recordista no salto em altura em julho de 1960.[8][9]

Teve participação em um dos programas Zip-Zip em 1969,[2] e foi um dos artistas incluídos no primeiro disco do programa com a canção "Ixi Ami".[2] Posteriormente acabou gravando já pelo selo da Zip-Zip, que foi tornada uma subeditora da editora discográfica Companhia de Discos de Angola (CDA).[2] Em 1970 lança seu primeiro álbum com o título "Angola", bastante aclamado e regravado na Espanha, na França (com o título "Africa Negra") e na Itália.[2] A canção "Maquesu", pela Zip-Zip, integrou o seu segundo álbum, intitulado "Temas Angolanos", lançado em 1974.[2] Este continha letras de poemas de Viriato da Cruz,[10] Mário António,[10] António Jacinto,[10] Onésimo Silveira[10] e Agostinho Neto,[10] e contou com a participação de seu irmão André Mingas Júnior, do percussionista francês Daniel Louis e do pianista brasileiro Marcos Resende, com a produção de Thilo Krasmann.[2]

Mesmo já tendo uma robusta carreira musical, na década de 1970 Ruy Mingas trabalhou como professor de educação física na Escola Preparatória D. António da Costa, em Almada, em Portugal.[11] O período em Lisboa e Almada era também para estudo na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.[12]

Na Revolução dos Cravos, em abril de 1974, era o principal nome do corpo diplomático do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em Portugal,[2] sendo o responsável por iniciar as negociações pela independência angolana com os oficiais do Processo Revolucionário em Curso (PREC).[13][14][3] Retornou a Angola para lutar nos combates finais da guerra de independência.[3]

Em 9 de novembro de 1975 foi lhe dada a tarefa, por Agostinho Neto e Lúcio Lara, de ser o compositor da música Angola Avante!,[15] o Hino Nacional de Angola,[16] a partir da letra de Manuel Rui.[1] Ele e Manuel Rui entregaram o hino em 11 de novembro de 1975, no dia da independência de Angola.[15] Ainda dentro do fervor da proclamação de independência, foi um dos autores da muito aclamada canção "Meninos do Huambo",[10] lançada em 1976 e celebrizada em Portugal por Paulo de Carvalho.[17]

Quando foi criada, em 4 de julho de 1979, a Secretaria de Estado para Educação Física e Desporto (SEEFD), pela primeira vez uma pasta com status de ministério autónomo para os desportos,[18] Ruy Mingas assumiu a sua condução e foi ministro por 10 anos, período de pujante desenvolvimento no desporto de Angola.[19] Organizou todo o processo de entrada de Angola no Comité Olímpico Internacional e a consequente participação, pela primeira vez, numa edição de jogos olímpicos (Jogos Olímpicos de Verão de 1980 em Moscovo).[20] Outro feito extraordinário do seu período como secretário-ministro (acumulando também a Presidência em exercício da Zona 4 do Conselho Superior dos Desportos de África) foi a realização dos II Jogos da África Central em Angola, com abertura em 20 de agosto de 1981, no Estádio da Cidadela, onde participaram, nas cidades de Luanda, Huambo e Lubango, mais de 1 500 pessoas entre atletas e árbitros de 12 países nas modalidades de futebol, andebol, basquetebol, atletismo, boxe, ciclismo, voleibol e judô.[12] Foi o responsável maior pela elaboração e concepção da política do desporto em Angola.[12]

Após deixar a pasta ministerial de Educação Física e Desporto, tornou-se embaixador de Angola em Portugal, servido de 1989 a 1995,[2] desempenhando um papel importantíssimo como principal diplomata angolano nos Acordos de Bicesse.[2]

Em 2002, formou uma associação empresarial com Paulo Múrias e a "Fundação Minerva - Cultura, Ensino e Investigação Científica" para constituir uma franquia-filial da Universidade Lusíada em Angola.[21] Desde então, era o principal acionista do polo universitário de Cabinda da referida universidade.[22] Passou a ser docente universitário do curso de bacharelado em desporto e reitor da Universidade Lusíada.[23][20] Também fundou no período a empresa Saber Angola[24] e o selo musical Xi Amyé Mingas em parceria com a editora discográfica GMPAO.[25]

Na década de 2010 foi nomeado pelo governo de Angola para presidir a Comissão de Revitalização do Desporto Escolar.[20]

Em 2015, foi noticiado que pertencia à maçonaria, sendo membro da Loja Cónego Manuel das Neves, da qual foi líder, e que se encontra integrada na Grande Loja Legal de Portugal.[26]

Foi eleito deputado do Círculo Nacional da Assembleia Nacional na lista do MPLA nas eleições gerais de Angola de 2017, permanecendo em funções até 2021, quando pediu afastamento em razão de seu estado de saúde.[27]

Morte e sepultamento

editar

Ruy Mingas morreu a 4 de janeiro de 2024, em Lisboa, aos 84 anos, vítima de doença prolongada.[28] Seu velório iniciou-se Basílica da Estrela, na capital portuguesa, ocorrendo até o dia 10 de janeiro de 2024, recebendo condolências oficiais, particularmente, do Estado português,[14] do Estado brasileiro[29] e da Santa Sé.[30] Seu corpo chegou a Luanda em 11 de janeiro de 2024,[31] sendo oferecido pelo governo de Angola um funeral de Estado na Igreja e Convento de Nossa Senhora do Carmo, local de seu batizado.[30] Compareceram todas as altas autoridades do país, inclusive o Presidente João Lourenço.[32] Foi sepultado no dia 12 de janeiro de 2024 no Cemitério do Alto das Cruzes, na capital angolana.[30]

Prémios e condecorações

editar

A 26 de julho de 1995, enquanto embaixador em Lisboa, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal.[33]

Em 2010, foi galardoado com a Medalha de Ouro das Artes e das Letras concedida pela Academia de Artes, Ciências e Letras da França.[34]

Em 8 de maio de 2014 recebeu da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) o "Prémio Autor Internacional".[35]

Em 2015 vence o Prémio Nacional de Cultura e Artes conceido pela República de Angola.[36]

A 19 de abril de 2017 recebeu o prémio Personalidade Lusófona 2016 concedido pelo Movimento Internacional Lusófono (MIL).[37]

Discografia

editar

Entre a sua discografia destacam-se:[38][39][40]

Álbuns

editar
Título Editora Número de Catálogo Ano
Angola Canções Por Rui Mingas Zip-Zip ZIP -

2003/L

1970
Temas Angolanos Zip-Zip ZIP -

2013/L

1974
Monangambé Zip-Zip ZIP -

2020/T

1976

Singles & EPs

editar
Título Editora Número de Catálogo Ano
Monangambé (EP) Zip-Zip ZIP -

10058/E

1974
Muadiaquimi / Birin Birin (Single) Zip-Zip ZIP -

30.002-S

1975
Cantiga Por Luciana / Minha Infância (Single) Zip-Zip ZIP -

30.004-S

1975
Poema da Farra / Maquesu (Single) Zip-Zip ZIP -

30.036-S

1975

Compilação:

editar
Título Editora Número de Catálogo Ano
Memória Maianga CD2011758 2011

Vida pessoal

editar

Casou com Julieta Cristina da Silva Branco Lima.[41] Com Julieta teve como filhos a cantora Katila Mingas,[41] a arquiteta Ângela Cristina Branco Lima Rodrigues Mingas,[41] a modelo Nayma[41] e o produtor de eventos Carlos Filipe Branco Lima Rodrigues Mingas, os dois últimos gémeos.[41]

Referências

  1. a b c Lusa (4 de janeiro de 2024). «Morreu Rui Mingas, coautor do hino de Angola». DW 
  2. a b c d e f g h i j k «Ruy Mingas por João Carlos Callixto: 18 Jan 1971 - "Makesu"». RTP. Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  3. a b c Dulce Neto; Agência Lusa (4 de janeiro de 2024). «Morreu Ruy Mingas, poeta e músico da resistência angolana, cantor e um dos autores de "Meninos do Huambo"». Observador 
  4. Nascimento, Washington Santos. (2015). «Das Ingombotas ao Bairro Operário: Políticas Metropolitanas, Trânsitos e Memórias no Espaço Urbano Luandense (Angola, 1940-1960)». Locus: Revista de História. 21 (1) 
  5. a b c d e Fátima d'Alva Penha Salvaterra Peres (31 de março de 2010). A Revolta Activa - Os conflitos identitários no contexto de luta de Libertação Nacional. Lisboa: Universidade NOVA de Lisboa 
  6. «André Mingas». LEA. 20 de maio de 2019 
  7. «O Ritmo do Ngola Ritmos». Televisão Popular de Angola. Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  8. «O recordista Ruy Mingas». Benfica Efeméride. 19 de junho de 2022 
  9. Lusa (4 de janeiro de 2024). «Rui Mingas. Presidente angolano lamenta morte de uma "personalidade de grande prestígio"». RTP 
  10. a b c d e f «Ruy mingas, um ícone entre as minhas estrelas negras». Novo Jornal. 15 de janeiro de 2024 
  11. Jorge Rebelo (31 de julho de 2019). «Rui Mingas». Blog Picareta Escrevente 
  12. a b c Edgar António de Santana Pontes (2014). O Desporto em África Para uma Geoestratégia do Desporto Angolano (PDF). Lisboa: Universidade de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana 
  13. «Testemunho de antigo embaixador em Angola no Portugal do 25 de abril em Luanda». Ver Angola. 23 de abril de 2019 
  14. a b «Marcelo Rebelo de Sousa recorda Rui Mingas como personalidade da "mitologia moderna de Angola"». Diário de Notícias. 4 de janeiro de 2024 
  15. a b «O Hino Nacional foi feito sob muita pressão». Jornal de Angola. 11 de novembro de 2015 
  16. «Um dos autores do Hino Nacional, Rui Mingas: "Quando leio uma poesia bonita procuro completá-la com uma melodia"». Portal de Angola. 11 de novembro de 2015 
  17. Cesaltina Abreu (2015). «...E os Meninos de há 40 anos, o que aprenderam?...». Mulemba [Online]. 5 (10) 
  18. Miguel Natchulo Cassinda (2021). «A política desportiva na República Popular de Angola: uma breve análise histórica (1975-1991)». Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. Africana Studia (36): 11-23 
  19. Fernando Pereira (6 de novembro de 2015). «Cultura Física e Desporto na Angola independente.». Luanda: Revista Dipanda 40 anos 
  20. a b c «Angola/39 anos: Rui Mingas reconhece evolução e pede maior valorizaçao da "paixão futebol"». Portal de Angola. 11 de novembro de 2014 
  21. «Universidade Lusíada de Angola». Universidade Lusíada-Porto. 13 de dezembro de 2002 
  22. «Fundo privado constrói refinaria em Cabinda». Expresso. 29 de dezembro de 2019 
  23. «PR consternado com morte de Rui Mingas». Rádio Nacional de Angola. 4 de janeiro de 2024 
  24. «Morte do nacionalista Rui Alberto Vieira Dias Mingas». Jornal ÉME. 4 de janeiro de 2024 
  25. «Ruy Mingas». Apple Misic. 2024 
  26. «Maçonaria recruta altos dirigentes na Lusofonia». SOL. Consultado em 25 de dezembro de 2023 
  27. «Pedro Sebastião e Joana Lina de regresso ao Parlamento». Novo Jornal. 16 de dezembro de 2021 
  28. «Morreu Rui Mingas, coautor do hino de Angola e ex-embaixador em Portugal». CNN Portugal. 4 de janeiro de 2024 
  29. «Fundação Cultural Palmares expressa pesar pela morte do poeta angolano Ruy Mingas». Ministério da Cultura do Brasil. 5 de janeiro de 2024 
  30. a b c Dulce Araújo (12 de janeiro de 2024). «Ruy Mingas - um nome maior da cultura angolana». Vatican News 
  31. «Angola: Rui Mingas sepultado em Luanda após velório e homenagem nacional». RFI. 12 de janeiro de 2024 
  32. «Presidente João Lourenço rende homenagem a Rui Mingas». Jornal de Angola. 11 de janeiro de 2024 
  33. «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Ruy Alberto Dias Mingas". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de agosto de 2019 
  34. Cultura - Rui Mingas enaltecido por academia francesa. Radio Ecclesia. 6 de junho de 2010.
  35. «PRÉMIO AUTORES 2014 | VENCEDORES -». https://www.spautores.pt/. Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  36. Rui Mingas vence Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de música. AngoRussia. 2015.
  37. Ruy Mingas Homenageado pelo MIL – Movimento Internacional Lusófono. Embaixada da República de Angola em Portugal. 20 de abril de 2017.
  38. «Discografia de Ruy Mingas». Fonoteca Municipal de Lisboa - Catálogo. Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  39. «Rui Alberto Vieira Dias Mingas - MusicBrainz». musicbrainz.org. Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  40. «Ruy Mingas discography - RYM/Sonemic». Rate Your Music (em inglês). Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  41. a b c d e «Ruy Mingas». LAST FM. 7 de setembro de 2013 

Ligações externas

editar