Na última quarta-feira o Copom decidiu pela redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, que agora se encontra em 10,50%. Após seis cortes consecutivos de meio ponto percentual os membros do Comitê, em uma decisão dividida, reduziram o ritmo dos cortes.
Em seu comunicado o Copom ressalta a pressão exercida pelas taxas de inflação ao redor do mundo, o adiamento do início da flexibilização monetária nos países desenvolvidos, em particular nos EUA, a inflação mais persistente no Brasil e a elevação do risco fiscal decorrente das últimas flexibilizações no Arcabouço Fiscal.
A verdade é que de todas as variáveis alegadas em seu comunicado, a única que não estava no radar era o aumento do risco fiscal, cuja razão é palpável, qual seja: a facilidade com que em apenas 2 semanas o Governo conseguiu aprovar no Congresso um adiantamento de receitas e eliminou a previsão de superávit primário no próximo ano, que de 0,5% passou para 0% do PIB.
Não é coincidência que o Presidente do Banco Central tenha se pronunciado pouco após estas mudanças no Arcabouço para alertar ao mercado que a já sinalizada redução de 0,5% tenha “subido no telhado”. Uma tentativa de ir ajustando as expectativas.
O que mais causou repercussão, contudo, não foi o corte em si, mas o placar dividido, de 5 a favor de 0,25 ponto percentual a 4 pelo corte de meio ponto percentual, sendo que todos os indicados pela atual Governo defenderam uma redução maior.
O placar da votação disparou uma onda de dúvidas sobre a consistência da política monetária a ser seguida a partir do próximo ano, quando o Banco Central terá um novo Presidente. Na bolsa de apostas, muitos analistas começaram a repercutir o receio de que a nova composição do Comitê seja mais leniente com a inflação, o que poderá comprometer os indicadores de solvência do País, em especial a relação dívida PIB.
Fazendo eco ao clima de 'Fla-Flu da polarização radical', muitas notícias subsidiadas por muitos gestores e analistas enfocaram os riscos para o país e lembraram a época em que o Banco Central teve um presidente, Alexandre Tombini, mais alinhado aos desejos do Governo capitaneado pela Presidente Dilma Rousseff. Afinal, foi nessa época que foi gestada a recessão de 2015-2016 a partir de um misto de política fiscal expansionista, política monetária frouxa e crédito à vontade por meio de bancos públicos. Nesse contexto, a Bolsa caiu mais um pouco e a as taxas de juros futuros subiram, refletindo a maior percepção de risco.
O investidor agora tem diante de si o seguinte quadro: de um lado o mercado acionário andando de lado, se não para baixo, e do outro as taxas de juros de curto prazo altas e as de longo prazo ainda mais elevadas.
Palestrei em um evento na última quinta e uma das perguntas que recebi foi sobre ambiente de investimentos, ou melhor, se um corte de meio ponto percentual não teria sido melhor para a Bolsa.
Gosto de responder esta pergunta sempre começando com uma outra: Por que durante o período Dilma e Tombini, em 2013, quando a taxa de juros foi a 7,25% o Ibovespa caiu 15% e o país entrou na pior recessão da história já o ano seguinte?
A resposta óbvia, portanto, é que não há relação inequívoca entre redução da taxa de juros e crescimento econômico, como gostariam muitos no atual Governo.
Não me alinho entre aqueles que julgam que um Presidente e uma maioria do Copom formada por indicados pelo atual Presidente signifiquem certeza de leniência com a inflação, mas é impossível desprezar este risco e os preços dos ativos já refletiram esse medo.
O investimento, seja produtivo, como na expansão de uma fábrica, ou financeiro, ele segue a mesma lógica de buscar o retorno e fugir do risco. Quando falamos em maximizar o retorno para um mesmo risco, estamos dizendo que o investimento tem que recompensar o risco. Contudo, risco não é algo observável a olho nu, ele está mais para uma percepção e quando ela aumenta, o normal é que exijamos mais retorno.
Considerando as expectativas, a verdade é que uma redução de meio ponto percentual poderia ser até pior para o ambiente de investimentos, basta imaginar que ela fosse entendida como falta de compromisso e prontidão do Banco Central em relação a meta de inflação. Nessa situação, as taxas de juros poderiam ter subido ainda mais.
Ao que tudo indica iniciamos uma nova fase, que pode até ser curta, a depender dos próximos sinais, em que o risco está mais aflorado. O segundo semestre se aproxima com dúvidas em relação a execução da política monetária do próximo ano sob a nova direção do Banco Central e o compromisso do Governo com o Arcabouço Fiscal.
Com este quadro à frente é muito difícil tomar uma decisão de investir em risco, principalmente quando temos à disposição uma taxa de juros básica em termos reais, acima da inflação, de mais de 6%. Mas não adianta reclamar dela, afinal a percepção de risco está alta.
Hudson Bessa - Economista e sócio da HB Escola de Negócios
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