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Conde de Cantanhede

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Título dos Marqueses de Marialva, in Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal (1755). Estas eram no século XVII e XVIII as armas dos Condes de Cantanhede (1479) e Marqueses de Marialva (1661), mas não as dos condes no século XV.

O título de Conde de Cantanhede foi um título nobiliárquico de Portugal. Foi concedido a 6 de Agosto de 1479 por D. Afonso V a favor de D. Pedro de Meneses, 5.º senhor de Cantanhede. O título foi atribuído como recompensa pela sua participação na Batalha de Toro em 1476; no entanto, apenas seria renovado quase século e meio mais tarde, num descendente do primeiro conde.

Mais tarde, em plena Guerra da Restauração (1640-1668), o seu quarto neto D. António Luís de Meneses, 3.º conde e 11.º senhor de Cantanhede, seria elevado a Marquês de Marialva a 11 de Junho de 1661 por D. Afonso VI, como recompensa pelo seu papel importante na restauração da independência, nomeadamente a sua grande vitória na Batalha das Linhas de Elvas em 1659. O condado foi então absorvido pelo marquesado; e o título condal foi então usado, tal como era prática corrente, pelo herdeiro do marquesado em vida do pai.

Os Meneses de Cantanhede descendiam da mais alta nobreza da Península Ibérica. O título foi referido por D. António Caetano de Sousa nas Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal no século XVIII;[1] e mais recentemente, Anselmo Braamcamp Freire dedicou à linhagem o Cap. VI do Vol. I dos Brasões da Sala de Sintra, incluindo os ramos de Cantanhede e Marialva; da Ericeira e Louriçal; e de Tarouca e Penalva; e ainda o de Vila Real; e vários ramos menores.[2]

O mais conhecido de todos os titulares será sem dúvida D. Pedro de Alcântara de Meneses, o famoso 4.º Marquês de Marialva e 6.º Conde de Cantanhede, estribeiro-mor de D. José I. Considerado o melhor cavaleiro de Portugal do seu tempo, teve um papel decisivo no aperfeiçoamento da Picaria Real e da arte equestre em Portugal na segunda metade do século XVIII. Na obra magna de cavalaria do século, a portuguesa Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavallaria (1790), ele pode ser visto em várias das belas estampas demonstrando exercícios da alta escola. A sua arte equestre, frequentemente apelidada de arte de Marialva em Portugal, tem hoje uma digna sucessora na Escola Portuguesa de Arte Equestre.

Para além deste, o membro mais importante da linhagem foi justamente D. António Luís de Meneses, o 3.º Conde de Cantanhede, um dos principais chefes militares na última década da Guerra da Restauração e comandante supremo, como foi dito, do exército português na Batalha das Linhas de Elvas, e por isso feito primeiro Marquês de Marialva.

Origens medievais

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Ruínas do castelo de Marialva.
Ruínas da vila de Marialva.

As origens dos Meneses senhores e condes de Cantanhede, e mais tarde marqueses de Marialva, remontam aos grandes Meneses do século XIV, cujas lutas pelo poder tão bem relatadas foram nas crónicas de Fernão Lopes. Os senhores de Cantanhede descendem assim de D. Gonçalo Teles de Meneses, o primeiro Conde de Neiva, irmão do sexto Conde de Barcelos, D. João Afonso Telo, e da rainha D. Leonor Teles.

Os Condes de Cantenhede e Marqueses de Marialva tinham assim a mesma ascendência que os Condes da Ericeira e Marqueses de Louriçal, que era um ramo desta Casa. E também os Condes de Tarouca e Marqueses de Penalva eram parentes destes títulos, visto serem descendentes de D. João Afonso Telo de Meneses, o primeiro Conde de Ourém, tio dos mencionados Conde de Neiva, Conde de Barcelos, e D. Leonor Teles.

Senhores de Cantanhede

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Entre os Meneses de Cantanhede do final de Quatrocentos, é justo referir D. João de Meneses (ca. 1460-1514), filho do 4.º senhor de Cantanhede e irmão do primeiro conde. Tal como grande parte da alta nobreza portuguesa de então, participou nas campanhas em Marrocos, sendo capitão de Arzila e de Azamor, onde faleceu.

  1. D. Gonçalo Teles de Meneses, primeiro Conde de Neiva em 1373.
  2. D. Martinho de Meneses.
  3. D. Fernando de Meneses.
  4. D. João de Meneses.
  5. D. Pedro de Meneses (ca. 1450-1518), primeiro Conde de Cantanhede em 1479.

Como refere Braamcamp Freire, o Conde de Neiva havia casado, antes de 1372, com D. Maria Afonso de Albuquerque, filha do grande D. João Afonso de Albuquerque, o do Ataúde, aio e mordomo-mor de Pedro I de Castela. Braamcamp Freire continua:

Em atenção a êste casamento, e para se distinguirem dos Meneses da linha de Vila Rial, [isto é, os Condes de Vila Real (1424)] formaram os descendentes do Conde de Neiva o escudo das suas armas, sobrepondo o escudete de oiro liso, armas antigas da família, ao escudo dos Albuquerques. Ficou então o seu brasão constituido pela seguinte forma: esquartelado: o I e IV das armas do reino com um filete de negro sotopôsto em barra; o II e III de vermelho, cinco flores de lis de oiro; sôbre o todo, de oiro liso.[3]

Condes de Cantanhede (1479)

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D. António Luís de Meneses, que foi 3.º Conde de Cantanhede e mais tarde o 1.º Marquês de Marialva, vencedor das grandes batalhas das Linhas de Elvas (1659) e Montes Claros (1665).

A concessão do título condal em 1479 ao 5.º senhor de Cantanhede enquadra-se na onda de mercês, ainda mal estudada, decorrente da Batalha de Toro (1476) contra Fernando II de Aragão, no contexto da Guerra de Sucessão de Castela ou guerra da Beltraneja, em que D. Pedro de Meneses esteve presente ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.

No entanto, por razões ainda não conhecidas, o título apenas foi renovado quase século e meio mais tarde por Filipe III de Espanha e II de Portugal no seu quarto neto homónimo, D. Pedro de Meneses, 9.º senhor de Cantanhede, em 1618.

Pouco depois este último foi o encarregado de reunir o contingente militar da região de Coimbra destinado a incorporar a famosa Jornada dos Vassalos: a grande armada luso-espanhola que reconquistou Salvador (Bahia) dos holandeses em 1625, após a conquista da então capital portuguesa do Brasil no ano anterior. No final da sua vida o 2.º Conde de Cantanhede foi Presidente do Senado da Câmara de Lisboa. Nomeado ainda em 1639, antes da Restauração a 1 de Dezembro o ano seguinte, logo aderiu à aclamação de D. João IV, e permaneceu no cargo até 1643. Faleceria no ano seguinte.

  1. D. Pedro de Meneses 1.º Conde de Cantanhede.
  2. D. Pedro de Meneses (†1644), 2.º Conde de Cantanhede; quarto neto do anterior.
  3. D. António Luís de Meneses (1603-1675), 3.º Conde de Cantanhede e 1. º Marquês de Marialva; filho do anterior.
  4. D. Pedro António de Meneses (1658-1711), 4.º Conde de Cantanhede e 2.º Marquês de Marialva; filho do anterior.
  5. D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Meneses (1691-1740), terceira Marquesa de Marialva; filha do anterior. Casou em 1712 com D. Diogo de Noronha, filho segundo do 3.º Marquês de Angeja, sendo a varonia da Casa substituída pela dos Noronhas.[4]
  6. D. Pedro José de Alcântara de Meneses Noronha Coutinho (1713-1799), 6.º Conde de Cantanhede e 4.º Marquês de Marialva; filho dos anteriores.
  7. D. Diogo José Vito de Meneses Noronha Coutinho (1739-1803), 7.º Conde de Cantanhede e 5.º Marquês de Marialva; filho do anterior.
  8. D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses (c. 1775-1823), 8.º Conde de Cantanhede e 6.º Marquês de Marialva; filho do anterior. Sem geração.

Em data incerta, os Condes de Catanhede modificaram as armas mencionadas supra: 1) no I e IV quartel, retiraram o filete em barra; no II e III, substituíram as armas pelas armas reais de França; e por fim, introduziram no escudete um anel. Estas são as armas que se podem ver na obra de D. António Caetano de Sousa, que as descreve da seguinte forma:

As Armas deſta Caſa ſão o Eſcudo eſquartelado das Armas de Portugal, e no outro tres Flores de Liz de Ouro em campo azul, e no meyo o Eſcudo dos Menezes, que he em campo de ouro hum anel, e por timbre: por Timbre uma Donzella veſtida de Ouro com o Eſcudo nas maõs.[5]

Este II e III quartel eram as armas reais da França; note-se, no entanto, que não existia qualquer parentesco com esta.[6]

Note-se que estas armas são idênticas às dos Marqueses de Louriçal.

Marqueses de Marialva (1661)

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D. Pedro de Meneses, 6.º Marquês de Marialva e embaixador a Paris, onde faleceu sem descendência

O 3.º Conde de Cantanhede era um acérrimo adversário político do Conde de Odemira, figura então de grande influência na corte. Por essa razão, sempre até a morte de D. João IV em 1656 recusou qualquer cargo de relevo na corte.[7] Após a morte do monarca, a regente D. Luísa de Gusmão nomeou-o em 1658 Capitão-General do exército que foi em auxílio da praça de Elvas, sitiada pelo exército espanhol. Graças à importante vitória que foi a Batalha das Linhas de Elvas, em 1659, foi então o Conde de Cantanhede elevado a Marquês de Marialva em 1661. Poucos anos mais tarde, seria novamente o comandante supremo do exército português que ganhou a grande vitória da Batalha de Montes Claros (1665), a última grande batalha da guerra.

O 4.º marquês foi o famoso "Marquês de Marialva", exímio cavaleiro e estribeiro-mor de Sua Majestade Fidelíssima.

O 6.º Marquês de Marialva foi diplomata. Com a sua morte sem descendência em Paris em 1823 ― numa época já de dificuldades para a alta nobreza, acentuadas pela Revolução Liberal do Porto em 1820, e mais tarde pelo resultado das Guerras Liberais (1828-1834)[8][9][10] ―, a represenção do título passou aos Duques de Lafões, graças ao casamento da irmã do último marquês com João Carlos de Bragança, o 2.º Duque de Lafões.

  1. D. António Luís de Meneses (1603-1675), 1.º Marquês de Marialva e 3.º Conde de Cantanhede; filho do anterior.
  2. D. Pedro António de Meneses (1658-1711), 2.º Marquês de Marialva e 4.º Conde de Cantanhede; filho do anterior.
  3. D. Joaquina Maria da Conceição de Meneses (1691-1740), 3. ª Marquesa de Marialva e 5.ª Condessa de Cantanhede; filha do anterior. Casou em 1712 com D. Diogo de Noronha, filho segundo do 3.º Marquês de Angeja, como ficou dito supra.
  4. D. Pedro José de Alcântara de Meneses Noronha Coutinho (1713-1799), 4.º Marquês de Marialva e 6.º Conde de Cantanhede; filho dos anteriores.
  5. D. Diogo José Vito de Meneses Noronha Coutinho (1739-1803), 5.º Marquês de Marialva e 7.º Conde de Cantanhede; filho do anterior.
  6. D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses (c. 1775-Paris, 1823), 6.º Marquês de Marialva e 8.º Conde de Cantanhede; filho do anterior. Sem geração .

As armas dos Marqueses de Marialva eram as dos Condes de Cantanhede supra. No entanto, Braamcamp Freire refere um serviço de louça, que teria pertencido ao último marquês, já de varonia Noronha, com as seguintes armas: escudo esquartelado: o I Portugal; o II de vermelho, três flores de lis de ouro (Albuquerque modificado); o III Noronha; o IV Coutinho.[11] No entanto, na Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria, de 1790, as armas do 4. marquês são sempre vistas como sendo as descritas e ilustradas por D. António Caetano de Sousa, o que sugere que assim teriam sido, pelo menos, durante todo o século XVIII.

Após a queda da Monarquia

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Com a queda da Monarquia e a implantação da República Portuguesa em 1910 foram os titulares à data da implantação da República autorizados a manter e usar os seus títulos até à morte. Os vários títulos da Casa de Marialva não estão em uso oficial por causa da República, embora existam descendentes.

Referências

  1. CAETANO DE SOUSA, D. António: Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal, pp. 143-157.
  2. BRAAMCAMP FREIRE, Anselmo: Brasões da Sala de Sintra, Vol. I, pp. 101-138.
  3. Id., ibid., p. 112.
  4. Id., ibid., p. 115.
  5. CAETANO DE SOUSA, D. António: op. cit., p. 155.
  6. BRAAMCAMP FREIRE, Anselmo: op. cit., p. 113.
  7. SOARES, Alberto Ribeiro: Os Generais do Exército Português, Vol. I, p. 175.
  8. MONTEIRO, Nuno Gonçalo: O Crepúsculo dos Grandes. A Casa e o Património da Aristocracia em Portugal (1750-1850)
  9. MONTEIRO, Nuno Gonçalo: ”Os rendimentos da aristocracia portuguesa na crise do Antigo Regime.”
  10. MONTEIRO, Nuno Gonçalo: ”O endividamento aristocrático (1750-1832): alguns aspectos.”
  11. BRAAMCAMP FREIRE: op. cit., p. 113.
  • BRAAMCAMP FREIRE, Anselmo: Brasões da Sala de Sintra. 3 Vols. 3.ª Edição, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1996.
  • CAETANO DE SOUSA, D. António: Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal. 3.ª Edição, 1755.
  • MONTEIRO, Nuno Gonçalo: O Crepúsculo dos Grandes. A Casa e o Património da Aristocracia em Portugal (1750-1850). Lisboa: Imprensa Nacional, 1998.
  • MONTEIRO, Nuno Gonçalo: "Os rendimentos da aristocracia portuguesa na crise do Antigo Regime." In Análise Social, vol. XXVI (111), 1991 (2.º), pp. 361–384.
  • MONTEIRO, Nuno Gonçalo: "O endividamento aristocrático (1750-1832): alguns aspectos." In Análise Social, vol. XXVII (116-117), 1992 (2.º-3.º), pp. 263–283.
  • MONTEIRO, Nuno Gonçalo: "Casamento, celibato e reprodução social: a aristocracia portuguesa nos séculos XVII e XVIII." In Análise Social, vol. XXVIII (123-124), 1993 (4.º-5.º), pp. 921–950.
  • SOARES, Alberto Ribeiro (Coord.): Os Generais do Exército Português. 5 Vols. Lisboa: Biblioteca do Exército, 2003-2008.