Saltar para o conteúdo

Povos indígenas do Maranhão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

De acordo com o Censo 2022, do IBGE, o Maranhão tinha 57.214 indígenas de diversas etnias, com 72,93% vivendo em terras indígenas. Entretanto, 15.488 estavam fora desses territórios, vivendo em cidades ou áreas não demarcadas.[1][2][3]

Classificam-se em dois troncos linguísticos: Tupi-Guarani e Macro-jê.

Tenetehara (guajajara e tembé), Awá-guajá, Urubu-Kaapor são povos de língua Tupi; enquanto que os Canela Apaniekrá e Ramkokamekrá, Pukobyê (Gavião), Krikati e Timbira Krepumkateyê e Krenyê são povos de origem Jê.[4]

Povos como os Akroá-Gamela e Tremembés ainda lutam por reconhecimento étnico e demarcação de terras.[5]

Entretanto, a maioria das etnias, como os Tupinambás (presentes na cidade de São Luis), Barbado, Amanajó, Araioses, Kapiekrã, entre outros, deixaram de existir, seja por extermínio ou por assimilação.[6]

Terras Indígenas

[editar | editar código-fonte]

São Terras Indígenas com status de homologadas no estado do Maranhão, no ano de 2020[7]:

Terra Indígena Etnia Municípios Superfície (ha) População (2022)[8] Percentual de indígenas (2022)[8]
Alto Turiaçu Ka´apor, guajá, tembé Centro Novo do Maranhão, Maranhãozinho, Centro do Guilherme, Zé Doca, Santa Luzia do Paruá, Araguanã 530.524,7417 4.183 99,64
Arariboia Guajá, Tenetehara Arame, Buriticupu, Amarante do Maranhão, Bom Jesus das Selvas, Santa Luzia, Grajaú 413.288,0472 10.318 98,45
Awa Guajá Governador Newton Bello, Centro Novo do Maranhão, Zé Doca, São João do Carú 116.582,9182 279 40,5
Bacurizinho Tenetehara Grajaú 82.432,4931 4.327 99,58
Cana Brava/Guajajara Tenetehara Jenipapo dos Vieiras, Barra do Corda, Barão de Grajaú 137.329,5429 10.824 98,5
Caru Tenetehara, Guajá Bom Jardim 172.667,3777 779 99,36
Geralda Toco Preto Timbira Krepumkateyê Arame, Itaipava do Grajaú 18.506,2081 184 81,52
Governador Tenetehara, Gavião Pukobiê Amarante do Maranhão 41.643,7567 1.360 99,41
Kanela Canela Ramkokamekrá Fernando Falcão, Barra do Corda 125.212,1625 2.552 99,8
Krenyê Timbira Krenyê Vitorino Freire, Barra do Corda 8.035,6750 99 83,84
Krikati Krikati Montes Altos, Amarante do Maranhão, Lajeado Novo, Sítio Novo 144.775,7868 1.670 76,53
Lagoa Comprida Tenetehara Jenipapo dos Vieiras, Itaipava do Grajaú 13.198,2651 1.334 97,3
Morro Branco Tenetehara Grajaú 48,9804 978 98,77
Porquinhos Canela Apanyekrá Fernando Falcão, Barra do Corda 79.520,2544 892 97,31
Rio Pindaré Tenetehara Bom Jardim, Monção 15.002,9142 1.333 97,07
Rodeador Tenetehara Barra do Corda 2.319,4531 587 97,79
Urucu/Juruá Tenetehara Itaipava do Grajaú 12.697,0441 1.046 99,14
Brigadas formadas por indígenas do Prevfogo/Ibama combatem incêndio florestal na Terra Indígena Porquinhos, no Maranhão

Encontram-se na fase procedimento "declarada": Bacurizinho, etnia guajá, em Grajaú, com 134.040,0000 ha; Porquinhos dos Canela-Apãnjekra, etnia kanela, em Formosa da Serra Negra, Mirador, Fernando Falcão e Barra do Corda, com 301.000,0000 ha.[7]

Encontram-se na fase de procedimento "em estudo": Governador, etnias tenetehara e gavião pukobiê, em Amarante do Maranhão; Vila Real, etnia tenetehara, em Barra do Corda.[7]

Encontra-se na fase de procedimento "delimitada": Kanela Memortumré, etnia kanela, em Fernando Falcão e Barra do Corda, com 100.221,0000 ha.[7]

As Terras Indígenas maranhenses se concentram especialmente na região leste (bioma da Amazônia Oriental) e no centro do estado (bioma do Cerrado).

No Maranhão, a população indígena corresponde a 0,84% da população total, ocupando o estado a 12ª colocação no ranking de proporção indígena nos estados e terceira no Nordeste. A população indígena do Maranhão representa 3,38% da população total de indígenas no país, sendo a oitava maior população indígena do país no Censo de 2022.[9][10]

De acordo com o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, a população dos povos indígenas maranhenses encontrava-se assim distribuída, sendo os guajajaras um dos mais numerosos do Brasil (ocupando a sexta posição)[11]:

Povo Tronco linguístico População total (2010)
Canela Macro-jê 1.521 [12]
Gavião Pukobiê Macro-jê 745 [12]
Ka'apor Tupi-Guarani 1.541 [12]
Guajá Tupi-Guarani 536 [12]
Tenetehara Tupi-Guarani 24.428 [12]
Krikati Macro-jê 978 [12]
Tembé Tupi-Guarani 1.844 [12]
Timbira Krepumkateyê Macro-jê 160 [13]
Timbira Krenye Macro-jê 170 [14]

Os municípios com a maior população indígena no estado são os seguintes, conforme o Censo de 2022 do IBGE[9][2]:

Municípios com maior população indígena
Município População indígena (2022) Proporção na população total (%) Terra Indígena
Amarante do Maranhão 8.210 22,13 Arariboia, Governador, Krikati
Grajaú 7.927 10,73 Arariboia, Bacurizinho, Morro Branco
Jenipapo dos Vieiras 7.880 46,15 Cana Brava/Guajajara, Lagoa Comprida
Barra do Corda 5.552 6,57 Cana Brava/Guajajara, Kanela, Krenyê, Porquinhos, Rodeador
Arame 3.552 13,80 Arariboia, Geralda Toco Preto
Fernando Falcão 3.478 31,99 Kanela, Porquinhos
Bom Jardim 2.159 6,51 Caru, Rio Pindaré
Maranhãozinho 2.056 14,94̥ Alto Turiaçu
Viana 1.819 3,54 -
São Luís 1.616 0,16 -
Itaipava do Grajaú 1.296 9,37 Geralda Toco Preto, Lagoa Comprida, Urucu/Juruá
Montes Altos 1.099 12,07 Krikati
Centro do Guilherme 835 6,77 Alto Turiaçu

A etnia com a maior população são os guajajaras, no Maranhão, 24.428 pessoas, sendo a língua guajajara a língua indígena mais falada no Nordeste e uma das mais faladas no país, com 8.269 falantes, conforme o Censo de 2010 do IBGE.[9]

Os tembés vivem no Maranhão (Terra Indígena Alto Turiaçu) e no Pará (Terras Indígenas Alto Rio Guamá e Turé-Mariquita), separados pelo rio Gurupi.

Cultura indígena

[editar | editar código-fonte]
Guajajaras, mãe e filho

Cada etnia apresenta traços culturais e modo de vida e organização próprios.

Os padres franceses deixaram detalhados registros de sua relação com os povos indígenas e sua cultura, na ilha de Upaon-açu, durante o período da França Equinocial, iniciada em 1612.

Entre o povo awá-guajá, existe uma das últimas sociedades que sobrevivem somente da caça e da coleta no continente americano. Originalmente, não apresentavam vida sedentária, por não se utilizarem da agricultura como meio de sobrevivência. No entanto a maior parte da população já vive em aldeias, com a floresta continuando a ser fundamental no estilo de vida dos awá-guajás, com a caça como elemento central na vida das aldeias, ainda que também pratiquem a agricultura. Ocupam uma uma extensão territorial que vai desde a terra indígena Alto Turiaçu até a terra indígena Caru.[4]

Estudos genéticos revelaram que os maranhenses, de forma geral, são resultado de uma mistura 42% europeia, 39% indígena e 19% africana. Tal composição é muito semelhante ao observado em Belém, aproximando geneticamente o Maranhão da Região Norte e o afastando dos demais Estados do Nordeste.[15]

O Maranhão tem uma das populações mais miscigenadas do país, tendo os índios influenciado nos traços físicos, hábitos na alimentação, modo de viver, expressões e palavras usadas no dia a dia (ex. "Hen-hem", do tupi "sim"), nomes de cidades e lugares, instrumentos musicais, danças e ritmos, lendas, mitos e alguns elementos presentes na religiosidade popular. O bumba-meu-boi apresenta influência indígena.

A tiquira, proveniente do tupi antigo tykytykyr (ou tukutukur), que significa "destilar", é uma bebida alcoólica artesanal, de forte teor alcoólico e geralmente de cor roxa, obtida através da destilação artesanal da mandioca fermentada (não industrializada).

Entre os povos indígenas, são faladas as línguas: tenetehara (dialetos guajajara e tembé), kaapor (e a língua de sinais kaapor), guajá, todas do ramo tupi; timbira, do ramo macro-jê que se divide em diversos dialetos (canela, gavião pukobiê e krikati).[16] Os Krenyê e os Krepumkateyê não são mais falantes de sua língua materna.[17]

De acordo com o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, o número de falantes de línguas indígenas no Maranhão estava assim distribuído[12]:

Bolsa trançada por índios tenetehara no MA em 1945
Língua indígenas no Maranhão
Língua Tronco linguístico Total de falantes (2010)
Canela Macro-jê 488 [12]
Gavião Pukobiê Macro-jê 521 [12]
Ka'apor Tupi-Guarani 1.241 [12]
Guajá Tupi-Guarani 503 [12]
Guajajara (tenetehara) Tupi-Guarani 8.269 [12]
Krikati Macro-jê 739 [12]
Tembé (tenetehara) Tupi-Guarani 420 [12]
Sônia Bone Guajajara: liderança indígena candidata à vice presidência da República em 2018 pelo PSOL; eleita deputada federal em 2022; e atualmente ministra dos Povos Indígenas.

O relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, apresentado em 2016, colocou o Maranhão como o estado com o maior número de conflitos indígenas no país, com 18 casos de invasões de terras indígenas.[18] Os casos envolvem disputas com fazendeiros, grileiros, madeireiros, a influência das ferrovias, dentre outras ocorrências. No Maranhão, foram desmatados 71,28% de sua floresta original, pertencente à região da Amazônia Oriental, o equivalente 105.195 km² de mata. Grande parcela da floresta que está sendo devastada ou é explorada ilegalmente encontra-se em área indígena. As terras indígenas, que por lei são de proteção integral, equivalem a 52% dos 42.390 km² de floresta ainda restantes no estado. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 13% das áreas indígenas no estado foram desmatados.[19]

Em outubro de 2015, um incêndio já tinha devastado cerca de 220 mil dos 413 mil hectares da Terra Indígena Araribóia, o que representa mais de 50% da área (INPE). Em 2016, os incêndios continuaram a agravar a situação. Foram registrados 408 focos de incêndio no interior da área indígena, no período de janeiro a novembro daquele ano.[20] As queimadas provocam impacto na vida dos índios awá-guajás e guajajaras.

Referências

  1. «Área de ataque no Maranhão é disputada por índios e fazendeiros». G1 
  2. a b «Tabela 9718: População residente, total e indígena, por localização do domicílio e quesito de declaração indígena nos Censos Demográficos - Primeiros Resultados do Universo». sidra.ibge.gov.br. Consultado em 7 de agosto de 2023 
  3. «Panorama do Censo 2022». Panorama do Censo 2022 (em inglês). Consultado em 7 de agosto de 2023 
  4. a b [FUNAI - IMPERATRIZ/MA «Informações a respeito das comunidades indígenas jurisdicionadas a Administração Regional de Imperatriz-MA funai-itz. blogspot. com. br/2006/10/grupos-indgenas-do-maranho.html»] Verifique valor |url= (ajuda)  line feed character character in |titulo= at position 107 (ajuda)
  5. Elizabeth Maria Beserra Coelho; Mônica Ribeiro Moraes de Almeida. «31ª REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA GT 56. Povos indígenas, afrodescendentes e outros povos tradicionais, conflitos territoriais, e o não reconhecimento pelo Estado nacional.». DINAMICAS DAS LUTAS POR RECONHECIMENTO ÉTNICO NO MARANHÃO 
  6. Ecooos Os índios do Maranhão - O Maranhão dos índios
  7. a b c d «Terras Indígenas». www.funai.gov.br. Consultado em 27 de março de 2018 
  8. a b «Panorama do Censo 2022». Panorama do Censo 2022 (em inglês). Consultado em 7 de agosto de 2023 
  9. a b c «Indígenas no Censo 2010» (PDF) 
  10. «Tabela 9718: População residente, total e indígena, por localização do domicílio e quesito de declaração indígena nos Censos Demográficos - Primeiros Resultados do Universo». sidra.ibge.gov.br. Consultado em 7 de agosto de 2023 
  11. «Quais são os povos indígenas mais numerosos do Brasil?». Super. Consultado em 27 de outubro de 2020 
  12. a b c d e f g h i j k l m n o «O Brasil Indígena - IBGE 2010» (PDF) 
  13. Tabela 3.1 - Pessoas residentes em terras indígenas, por condição de indígena, segundo as Unidades da Federação e as terras indígenas - Brasil - 2010. [S.l.: s.n.] 
  14. de Almeida; Figueiredo Jr, Mônica Ribeiro Moraes; João Damasceno Gonçalves. AS TECITURAS DO PROCESSO DE REORGANIZAÇÃO SOCIAL KRENY. [S.l.: s.n.] 
  15. «Folha de S.Paulo - Genética: Maranhenses têm DNA amazônico - 31/08/2005». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 28 de março de 2018 
  16. «Apresentação». www.funai.gov.br. Consultado em 30 de agosto de 2020 
  17. OLIVEIRA, Ana Carolina Amorim. «A caneta é nossa borduna» (PDF) 
  18. «Maranhão é o estado com mais conflitos indígenas, diz relatório». Jornal O Estado do Maranhão 
  19. «No Maranhão, áreas indígenas são dizimadas por desmatadores». O Globo. 6 de abril de 2013 
  20. «Entre o fogo e a motoserra: os Awá Guajá da Terra Indígena Araribóia - Boletim Povos Isolados». Boletim Povos Isolados. 20 de março de 2017