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Louis Lavelle

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Louis Lavelle
Louis Lavelle
Nome completo Louis Lavelle
Escola/Tradição Existencialismo
Espiritualismo francês
Data de nascimento 15 de julho de 1883
Local Saint-Martin-de-Villeréal, França
Morte 1 de setembro de 1951
Local Parranquet, França
Principais interesses Antropologia Filosófica, Moral, Ontologia, Estética, Axiologia
Ideias notáveis A Teoria da Participação do Ser e da Liberdade
A ética como domínio fundamental próprio da ontologia humana.
Trabalhos notáveis O Erro de Narciso
Era Filosofia do século XX
Influências Platão, Nietzsche, Descartes, Bergson, Brunschvicg, Lachelier, Malebranche, Kant, Maine de Biran
Influenciados Paul Ricœur, Gabriel Marcel, Gilles Deleuze, Jean Guitton, Nikolai Berdiaev, Tarcísio Padilha, Alfredo Bosi, A. D. Sertillanges, Walter J. Ong, Vicente Ferreira da Silva, Jean-Louis Vieillard-Baron, Pierre Hadot, Marco Lucchesi, Renaud Barbaras
Alma mater Collège de France

Louis Lavelle (St. Martin de Villereal, 15 de julho de 1883 - Parranquet, 1 de setembro de 1951) foi um filósofo francês,[1] membro da Académie des Sciences Morales et Politiques.[2]

Louis Lavelle nasceu em 15 de julho de 1883 em Saint-Martin-de-Villeréal.

Ele deixou sua região natal aos sete anos de idade para continuar seu ensino médio em Amiens e Saint-Etienne. Durante seus anos na Universidade de Lyon, onde participou de eventos libertários, interessou-se pelo pensamento de Nietzsche que permaneceu sendo uma das influências da trajetória intelectual de Lavelle (ao lado de Maine de Biran, Malenbranche e Descartes).[3] Em Lyon, ele assistiu às palestras de Léon Brunschvicg e do grande filósofo Henri Bergson.[1]

Em 1909, em Neufchâteau, tornou-se professor associado de filosofia e depois lecionou em Vendôme e Limoges. Em 1914, embora já reformado, decidiu ir para a frente de batalha da Primeira Guerra Mundial. Ele foi enviado a Somme em 1915, depois para Verdun, onde foi feito prisioneiro em 1916. Durante sua detenção, ele escreveu sua futura tese, bem como suas Carnets de guerre.[1]

No final de 1921, ele defendeu sua tese de doutorado em filosofia na Sorbonne numa banca composta por Léon Brunschvicg e Léon Robin. Obteve um cargo na escola secundária de Fustel-de-Coulanges, em Estrasburgo, e se envolveu em organizações sindicais de professores na Alsácia-Lorena. Entre 1924 e 1940, lecionou no Lycée Henri-IV e Louis-le-Grand, Paris. Em 1934, ele e o filósofo René Le Senne fundaram a coleção Philosophie de l'esprit na editora Aubier-Montaigne. Em 1941, foi nomeado inspetor geral de instrução pública.[1]

Em 1940 tornou-se diretor de gabinete sob o ministro nacional da Educação e, mais tarde, Inspetor-Geral. Em 1941, ele foi eleito presidente do Collège de France, posição de prestígio anteriormente ocupada por Henri Bergson. Em 1943 ele foi premiado com o Prêmio literário Broquette-Génin da Academia Francesa por seu livro La parole et l'écriture.[4]

Lavelle dedicou seus últimos anos escrevendo um fluxo constante de artigos e livros e cuidando de seu filho caçula, que sofria de uma doença óssea. Ele morreu em 1º de setembro de 1951, e seu filho, no ano seguinte ao de sua morte.[4]

A obra de Lavelle não despertou grande interesse tanto em âmbito editorial quanto no meio acadêmico.[5][6][7] Embora tenha sido reconhecido e divulgado por alguns dos principais filósofos franceses do século XX, como Merleau-Ponty,[8] Gilles Deleuze,[9] Paul Ricœur[5] e Pierre Hadot,[10] ele não foi amplamente estudado na França.[5][6][7] Os primeiros artigos dedicados a sua obra vieram de intérpretes italianos e do brasileiro Tarcísio Padilha.[7]

Há ainda uma tentativa de difusão da filosofia lavelliana, graças aos esforços de nomes como Jean-Louis Vieillard-Baron que promove colóquios anuais sobre a obra do autor.[11] Lavelle encontrou maior difusão em Portugal e no Brasil. Em Portugal, Januário Torgal Ferreira, bispo emérito das Forças Armadas e Segurança, dedicou uma dissertação à antropologia de Lavelle nos anos 70.[12] Atualmente o professor Américo Pereira tem se dedicado aos estudos da obra de Lavelle e já lançou várias publicações sobre o pensamento do francês.[13]

Seguindo a corrente comum de sua época, Lavelle dedicou-se sobretudo à antropologia filosófica.[6] Portanto, abordou temas sobre a natureza humana, tais como a axiologia,[14] a estética,[15] o problema do mal,[16] a moral[9] e a liberdade do espírito.[17]

Há um enfoque similar ao da filosofia de Martin Heidegger, contemporâneo de Lavelle, que adotou uma atitude crítica em relação ao racionalismo científico,[18] embora Heidegger, como é sabido, tentou construir uma ontologia fundamental, evitando manter-se circunstrico à antropologia filosófica.[19][16]

Tendo em vista o caráter antropológico de sua filosofia, a metafísica não pode ser entendida nos moldes tradicionais, como um meio de alcançar a natureza última dos objetos. Trata-se de "uma investigação teórica e dialética, na qual nos cabe mostrar os diferentes meios pelos quais os seres particulares fundam sua existência separada".[20] Em outros termos, a metafísica é a consciência que o ser humano tem de si e sua relações com suas próprias potências, objetos e outros seres humanos.[20] Seguindo Nietzsche, para Lavelle a ética não é uma disciplina ou um qualquer sub-conjunto de um ato do ser humano, e sim o que define o próprio ser humano.[9]

Assim como seus professores Bergson e Brunschvicg, Lavelle compartilha a ideia de uma supremacia da vida do espírito, rica e criativa:

A consciência não é apenas a unidade de todos os fatos que nela nascem em um determinado momento; pode ser a unidade de todos os estados que se sucederam nela. Ela é tudo no presente; mas a cada momento que ela retoma a vida inteira, ela é capaz de revivê-la.[21]

O Ser Primitivo

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O Ser, para Lavelle, é objeto de uma experiência primitiva. Nas palavras de Renaud Barbaras, proeminente filósofo influenciado por Lavelle, não é porque temos um corpo que pertencemos ao mundo: "Apesar de aparecer como sendo evidente, essa proposição é cheia de pressupostos: ela envolve um certo sentido do corpo como extensão, do pertencimento como inclusão objetiva (ocupação de um lugar) e do mundo como espaço objetivo. Portanto, ao contrário, é preciso afirmar que é na medida em que pertencemos ao mundo que temos um corpo: ter um corpo não significa outra coisa mais do que pertencer. Desse modo, a questão do corpo encontra-se totalmente deslocada para a do pertencimento, de que Louis Lavelle afirma, com razão, que ele é o fato primitivo".[22] Para Lavelle, o ato é o princípio interior do próprio eu e do mundo e, por isso, nunca poderá ser um objeto ou uma razão, ainda quando apareçam sempre no interior do ato como algo criado por sua atividade incessante. O ser humano não é uma substância e sim um ato que parte da descoberta que é o cogito cartesiano. A primeira experiência que temos de nossa existência é a experiência do movimento voluntário; quando movemos nosso corpo, ainda que seja apenas o dedo mínimo, tomamos a consciência de nossa iniciativa e de nossa potência.[23]

Em português

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  • Regras da Vida Cotidiana, É Realizações, 2011
  • O Erro de Narciso, É Realizações, 2012
  • Ciência Estética Metafísica - Crônicas filosóficas, É Realizações, 2012
  • O Mal e o Sofrimento, É Realizações, 2014
  • A Consciência de Si, É Realizações, 2014
  • A Presença Total e Ensaios Reunidos, É Realizações, 2015
  • Do Ser - Dialética do Eterno Presente, vol. I, É Realizações, 2019
  • La dialectique du monde sensible, Les Belles Lettres, 1922 ; PUF, 1954.
  • La perception visuelle de la profondeur, Les Belles Lettres, 1922.
  • De l'être (La dialectique de l'éternel présent, 1), Alcan, 1928 ; 1932 ; Aubier, 1947.
  • La Conscience de soi, Grasset, 1933 ; 1951; Christian de Bartillat, 1993. (É Realizações, 2014)
  • La Présence totale, Aubier, 1934. (É Realizações, 2015)
  • Le Moi et son destin, Aubier, 1936.
  • De l'acte (La dialectique de l'éternel présent, 2), Aubier, 1937 ; 1946 ; 1992.
  • L'Erreur de Narcisse, Grasset, 1939 ; La Table Ronde, 2003. (É Realizações, 2012)
  • Le Mal et la souffrance, Plon, 1940 ; Dominique Martin Morin, 2000.
  • La Parole et l’écriture, L'Artisan du livre, 1942 ; Le Félin, 2007.
  • La philosophie française entre les deux guerres, Aubier, 1942.
  • Du temps et de l'éternité (La dialectique de l'éternel présent, 3), Aubier, 1945.
  • Introduction à l'ontologie, PUF, 1947; Le Félin 2008.
  • Les Puissances du moi, Flammarion, 1948.
  • De l'âme humaine (La dialectique de l'éternel présent, 4), Aubier, 1951.
  • Quatre saints, Albin Michel, 1951 ; sous le titre De la sainteté, Christian de Bartillat, 1993.
  • Traité des valeurs : tome I, Théorie générale de la valeur, PUF, 1951 ; 1991.
  • Traité des valeurs : tome II, Le système des différentes valeurs, PUF, 1955 ; 1991.
  • De l'intimité spirituelle, Aubier, 1955.
  • Conduite à l'égard d'autrui, Albin Michel, 1958.
  • Morale et religion, Aubier, 1960.
  • Manuel de méthodologie dialectique, PUF, 1962.
  • Panorama des doctrines philosophiques, Albin Michel, 1967.
  • Psychologie et spiritualité, Albin Michel, 1967.
  • Sciences, esthétique, métaphysique, Albin Michel, 1967.
  • De l’existence (manuscrit de Limoges de 1912), Studio Editoriale di Cultura (Gênes), 1984.
  • Carnets de guerre, 1915-1918, Québec, Éditions du Beffroi, et Paris, Les Belles Lettres, 1985.
  • L'Existence et la valeur (Leçon inaugurale et résumés des cours au Collège de France, 1941-1951), Documents et inédits du Collège de France, 1991.
  • Règles de la vie quotidienne, Arfuyen, février 2004
  • Christiane d'Ainval, Une doctrine de la présence spirituelle : la philosophie de Louis Lavelle, éd. Nauwelaerts, Louvain, 1967.
  • Chabot, Paul-Eugène, L’identification de l’Etre et de l’Acte dans la Dialectique de l’éternel présent, Bruxelles, 1950.
  • Ecole, Jean, La métaphysique de l'être dans la philosophie de Louis Lavelle, Nauwelaerts, Paris, 1957.
  • Georg Olms , Lavelle et le renouveau de la métaphysique de l’être au 20ème siècle, Georg Olms Verlag, Hildesheim, 1997.
  • Georg Olms, Louis Lavelle et l’histoire des idées : index de tous les auteurs auxquels il se réfère, 2004.
  • Ekogha, Thierry, Liberté et création chez Nicolas Berdiaev et Louis Lavelle, ANRT, Lille, 2000.
  • Hardy, Gilbert G., La Vocation de la liberté chez Louis Lavelle, Nauwelaerts, Paris, 1968.
  • Levert, Paule, L'être et le réel selon Louis Lavelle, Aubier, Paris, 1960.
  • Reymond, Christiane , Autrui dans la Dialectique de l'éternel présent de Louis Lavelle, Presses universitaires de France, Paris, 1972.
  • Robert, Sébastien, La philosophie de Louis Lavelle. Liberté et participation, Paris, l'Harmattan, 2007, ISBN 2296025889, ISBN 9782296025882[2]
  • Sargi, Bechara, La Participation à l'être dans la philosophie de Louis Lavelle, Prefácio de Paul Ricœur, Paris, 1957 [3]
  • Truc, Gonzague, De J.-P. Sartre à L. Lavelle, ou Désagrégation et réintégration, Tissot, Paris, 1946.
  • Vieillard-Baron, Jean-Louis, La Philosophie de l'esprit. Blondel-Lavelle-Marcel, Actes du colloque intermédiaire de l'Association des Sociétés de philosophie de Langue Française, 21-22 octobre 1995, G. Olms, Hildesheim, 1999.
  • Vieillard-Baron, Jean-Louis & PANERO, Alain (coordination), Autour de Louis Lavelle : Philosophie Conscience Valeur, Paris, l'Harmattan, 2006, ISBN 2296011926, ISBN 9782296011922
  • Władysław ZuziakLouis, Lavelle et les problèmes de la postmodernité, Analecta Cracoviensia, Cracovie, 2017

Ligações externas

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Referências

  1. a b c d «Intitulé de l'unité documentaire Fonds Lavelle, Louis». Collège de France 
  2. «Articles et livres sur l'œuvre de Louis Lavelle» (em francês). Consultado em 6 de abril de 2017 
  3. JOURNAL ARTICLE Lavelle e a Corrente Personalista Januário Torgal Ferreira Revista Portuguesa de Filosofia T. 27, Fasc. 3 (Jul. - Sep., 1971), pp. 257-288
  4. a b The Act of Presence Key Readings from the Philosophy of Louis Lavelle, translations, introduction, forewords and page-notes by Robert Jones
  5. a b c Paul Ricœur apud Tarcísio Padilha (2012). A Presença Total, Ensaios Reunidos. [S.l.]: É Realizações. p. 287. ...em torno da obra de Louis Lavelle, de seu estilo perfeito, de sua serenidade espinozista, uma espécie de silêncio respeitoso e penoso aconteceu na França, os jovens nem sequer o leem e os mais velhos discutem, de preferência, obras menos perfeitas, mas mais incisivas a seu gosto, que os tornaram muitas vezes desatentos ou desinteressados ao plano imenso do filósofo do ser; isso era natural; isso não é, sem dúvida, durável; quando o tempo houver reduzido as reputações, as verdadeiras grandezas se reclassificação; estou convencido de que Louis Lavelle, no fim dessa provação, será amplamente reconhecido. 
  6. a b c Ferreira, Januário Torgal, Título: O pensamento antropológico e Louis Lavelle, Editor: Porto : Universidade do Porto. Faculdade de Letras, Data de publicação: 1971, Universidade do Porto, disponível em [1]
  7. a b c Homenagem a Louis Lavelle no 1º Centenário de seu nascimento, Centro Dom Vital, A Ordem, 1983, Tarcísio Padilha
  8. Maurice Merleau-Ponty, Éloge de la philosophie et autres essais, s. l., Gallimard [1997], p. 17
  9. a b c Gilles Deleuze. Cahiers du Sud, XLII (em francês) No 334, abril de 1955 ed. [S.l.: s.n.] p. 499–500 
  10. HADOT Pierre, «Préface» a LAVELLE Louis, L’existence et la valeur (em francês), Paris, Collège de France, 1991, p. 12
  11. COLLOQUE LOUIS LAVELLE
  12. Ferreira, Januário Torgal Título: O pensamento antropológico e Louis Lavelle, Editor: Porto : Universidade do Porto. Faculdade de Letras, Data de publicação: 1971
  13. LOUIS LAVELLE na senda de uma milenar tradição metafísica., Ensaio sobre a relação de L. Lavelle com alguns dos expoentes da tradição metafísica, Autor Américo Pereira, Universidade Católica Portuguesa
  14. AUTOR:Padilha, Tarcísio APRESENTAÇÃO: Sucupira, Newton PREFÁCIO: Lucchesi, Marco Editora: É Realizações Gênero: Filosofia Subgênero:Filosofia| Número de Páginas: 160 ISBN 978-85-8033-074-8 Ano:2012
  15. «Um olhar estético a partir de perspectivas distintas: em Louis Lavelle, Benedetto Croce, Luigi Pareyson e Martin Heidegger». Revista do Colóquio. 30 de dezembro de 2018. Consultado em 13 de janeiro de 2019 
  16. a b Lavelle, Louis (2014). O Mal e o Sofrimento 1ª ed. [S.l.]: É Realizações. 565 páginas. ISBN 978-85-8033-180-6 
  17. O Platonismo na Filosofia de Louis Lavelle (1956). Em: LAVELLE, L. A Presença Total e ensaios reunidos. Apresentação de Tarcísio Padilha. Tradução de Carlos Nougué. São Paulo: É Realizações, 2012 (Coleção Filosofia Atual), pp.295-312.
  18. "Para ambos a ciência pouco tem a dizer sobre esse tema. Análises científicas que imobilizam o objeto observado, servem para examinar a esfera objetivada, mas o processo de pesquisa é inútil para analisar a esfera existencial." Analecta Cracoviensia” 49 (2017), s. 195–215 DOI: http://dx.doi.org/10.15633/acr.2413
  19. MacDOWELL, João A. A gênese da ontologia fundamental de Martin Heidegger: ensaio de caracterização do modo de pensar de Sein und Zeit. Vol. 27. Edicoes Loyola, 1993.
  20. a b Ciência estética metafísica: crônicas filosóficas. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: É Realizações, 2012. p. 149
  21. Léon Brunschvicg, Introduction à la vie de l’esprit, Paris, Alcan, 1920, p. 14.
  22. Belonging: toward a phenomenology of the flesh La pertenencia: en dirección a una fenomenología de la carne, Renaud Barbaras
  23. Qu’Est-c e que l’Éducation? Montaigne, Fichte et Lavelle , Paris, Vrin, 1994, pp. 106-121, Jean-Louis VIEILLARD BARON
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